Dia Mundial do Sono: descanso adequado é benéfico à saúde; hábitos e ambiente fazem diferença

Por Redação

Um boa noite de sono proporciona inúmeros benefícios: ajuda a reduzir o estresse, melhora o humor, a memória (permite que o cérebro processe melhor novas experiências e conhecimentos), o raciocínio (cognição, atenção e tomada de decisão) e ajuda o sistema imunológico a combater infecções. É durante o período de descanso que o organismo se recupera de um dia atribulado, repõe as energias e regula o metabolismo, fatores essenciais para manter o corpo e a mente saudáveis.

Porém, mais da metade da população no país não consegue desfrutar das vantagens de um sono de qualidade, segundo pesquisa realizada em 2019 pela Associação Brasileira do Sono: 65% dos brasileiros relatam tem problemas para dormir. E os dispositivos eletrônicos aparecem como possíveis vilões nessa equação: ao todo, 64% dos entrevistados declararam utilizá-los antes de dormir. “Deve-se evitar o uso de telas em geral pelo menos uma hora antes, para que seja possível relaxar. Comer pouco antes de se deitar ou consumir bebidas estimulantes, como o café, também pode atrapalhar”, pontua o pneumologista Ronaldo Macedo, do Vera Cruz Hospital.

A necessidade de horas de qualidade de descanso, lembrada anualmente pelo Dia Mundial do Sono (que, em 2023, é no sábado, dia 18) varia de acordo com a idade. Um recém-nascido, por exemplo, precisa, em média, de 14 a 18 horas por dia, intercaladas por momentos acordado, para crescer e se desenvolver neurologicamente. Ao longo da vida, essa demanda se adapta. Para o especialista, o adequado é que as pessoas consigam dormir pelo menos oito horas por dia, mas isso pode mudar de pessoa para pessoa. “Mais importante do que o tempo que dormimos é a qualidade do nosso sono. Quando dormimos bem, acordamos descansados. O sono fragmentado pode causar lentidão no dia seguinte, sonolência e desatenção. A necessidade de dormir por mais tempo para que o organismo consiga descansar indica que a qualidade não está boa. Isso precisa ser analisado e ajustado por um médico especialista, pois pode estar relacionado a patologias do sono, como apneia e insônia”, explica.

A apneia é um distúrbio mais frequente em homens, em que a respiração para e volta diversas vezes. Sintomas como ronco alto e sensação de cansaço, mesmo depois de uma noite inteira de sono, são alertas para a doença, que pode levar a complicações, como o aumento de risco cardiovascular, diabetes e obesidade. A insônia, por sua vez, é caracterizada pela dificuldade de dormir e/ou permanecer dormindo. “Quando o paciente relata transtornos com o sono, analisamos a rotina e, quando indicado, realizamos um exame chamado polissonografia, responsável por avaliar a qualidade do sono e identificar complicações”, detalha Macedo.

O médico recomenda, ainda, incluir, na rotina, a “higiene do sono”, que consiste em criar um ritual antes de ir dormir. “Opte por dormir sempre no mesmo horário, assim o corpo se acostuma e facilita o adormecer. Outros pontos também devem ser levados em consideração, como preparar o ambiente tornando-o confortável para o descansar, com pouca luminosidade e temperatura e cama adequadas.”

Como preparar o ambiente para dormir

De acordo com o arquiteto e urbanista Lorí Crízel, fatores importantes para garantir melhor qualidade no sono são a utilização correta da iluminação e a escolha das cores do local, e a aplicação de um design voltado à saúde.

Sobre o controle de luzes, o arquiteto recorda que o corpo humano foi programado para repousar durante o período noturno e não estar exposto a qualquer iluminação artificial, cuja incidência em altas quantidades desencadeia um processo fisiológico que provoca maior agitação e faz com que as pessoas demorem mais para relaxar e, consequentemente, dormir. “Tecnicamente falando, a luz artificial é composta por diversos comprimentos de ondas e um deles gera uma luz azul, que convida o organismo a produzir cortisol, conhecido como o hormônio do estresse, e mantém baixo os níveis de melatonina, hormônio responsável pelo relaxamento”, destaca.

Sobre as cores, ele lembra que azul e verde, em tons claros, são consideradas calmantes e passam uma sensação de tranquilidade. Já o preto e o vermelho são desaconselhados, por exemplo, em espaços de saúde, pois a primeira destas tonalidades pode despertar sentimentos de maldade, miséria, pessimismo, dor, temor, negação, melancolia e angústia; a segunda, em tons escuros, pode ser muito estimulante ao instigar ações como atos violentos, apetite em excesso ou fazer o indivíduo tomar atitudes antes de pensar nas consequências. “Mais importante do que definirmos qual cor utilizar, é saber que todas as escolhas devem ser organizadas de acordo com a atividade proposta e o momento. E é importante saber se essa é uma atividade diurna ou noturna, para qual público e, principalmente, somá-la a essa atividade. Para um espaço dedicado ao sono devemos evitar cores quentes, que trazem energia”.

Outros aliados, de acordo com o especialista, são os designs “salutogênico” (a interseção entre arquitetura, neurociência e psicologia com foco no apoio à saúde e o bem-estar, bastante utilizado em ambientes de saúde) e “biofílico”. “O primeiro melhora a sensação de independência dos pacientes por meio de facilidades, como janelas operáveis, por exemplo, ou pela melhoria dos acessos às instalações dos espaços hospitalares ou de clínicas. A segunda é uma ferramenta usada na neuroarquitetura com o objetivo de elevar o contato com elementos como a água, as plantas e os animais, além de ventilação e luz naturais, estimulando a criatividade e a sensação de pertencimento ao local, conectando-nos aos seres vivos e, assim, reduzindo o estresse”, conclui Crízel.

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